Os reais impactos econômicos da recente explosão mundial de casos de coronavírus – e da confirmação do primeiro paciente contaminado no país, um homem de 61 anos que regressou da Itália para São Paulo, em 21 de fevereiro – ainda são imprecisos. Sabe-se, contudo, que, assim como ocorre com outras nações, o Brasil e particularmente Minas Gerais devem se preparar para turbulências que atrapalharão o crescimento previsto para 2020.

A estimativa de elevação do PIB nacional este ano era de 2,2%, mas deve cair ao menos dois pontos percentuais em razão da chegada do vírus. Segundo o analista de estudos econômicos da Federação das Indústrias do Estado (Fiemg), Izak Carlos da Silva, a estimativa de aumento do PIB mineiro para 2020 deve seguir tal tendência.

“A previsão era de que crescêssemos 2,3%, mas certamente será menos. Até porque, em razão do coronavírus, tem havido queda de preços e de demanda internacional, especialmente da China, por produtos que lideram nossas exportações, como minério (62% do total vendido por Minas para fora), soja (12%), nióbio (9,3%) e carne (7,5%)”, disse.

Izak Silva afirmou, porém, que, mesmo com a chegada do coronavírus ao Brasil, a expectativa do mercado continua sendo a de que “a epidemia seja controlada, em todo o mundo, ainda neste trimestre”.

Baque nacional
Ontem, ao divulgar resultados sobre as contas públicas federais em janeiro – houve superávit primário do Governo Central de R$ 44,1 bi, com aumento real de 41% em relação ao mesmo período de 2019 (R$ 30 bi) –, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, comemorou os números. “O resultado de janeiro foi muito bom, com movimento muito atípico da arrecadação”, disse. 

Ele advertiu, contudo, que “ainda é cedo para dizer vai continuar assim nos outros meses do ano”, sobretudo em razão dos efeitos do coronavírus. “Não dá para extrapolar para o resto do ano. Não dá para saber se vai ser consistente ou não. Temos de esperar alguns meses para ver o que vai acontecer com a arrecadação”, explicou. “Essa questão do coronavírus está assustando todo mundo porque pode ter impacto muito forte no desaquecimento da economia mundial. O risco é tanto no preço de commodities [produtos primários com cotação internacional] quanto no crescimento menor do mundo”, afirmou.
 

Governo e empresários atentos

Em Minas, onde ainda não havia, até a tarde de ontem, casos confirmados do coronavírus – mas cinco pessoas estavam sob suspeita de ter contraído a doença –, analistas e autoridades mantinham-se atentos a possíveis efeitos da doença nas atividades econômicas e nas contas públicas. 

A Federação das Indústrias de Minas (Fiemg) informou, no meio da tarde, que seu staff técnico fazia reavaliações sobre os riscos de um possível surto ou epidemia no país e no Estado ao setor produtivo, em razão de “novos fatos envolvendo a doença”.

Já o governo mineiro, que prepara um aguardado leilão de recebíveis do nióbio para poder regularizar salários do funcionalismo, quitar o 13º de 2019 dos servidores e assegurar reajustes de algumas categorias aprovados pela Assembleia, não se manifestou diretamente sobre o assunto e sua relação com as contas públicas. 

Questionada sobre informações de que o coronavírus poderia até adiar o referido leilão, em razão de incertezas entre investidores relacionadas à doença, a assessoria da Secretaria de Governo limitou-se a emitir nota: “A modelagem da operação financeira envolvendo recebíveis do nióbio já foi definida e, agora, vigora período de silêncio imposto pelo Artigo 48 da Instrução 400 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O Estado trabalha para realizar a operação ainda no 1º trimestre de 2020”, revelou o comunicado.

Em relação à sanção e/ou vetos ao Projeto de Lei que prevê reajuste de servidores, remetido ao Executivo na semana passada – e cujo impacto deve ser de R$ 29 bi nas contas mineiras –, o posicionamento foi de que o documento “segue em análise” e de que o governo “tem até 17 de março” para se manifestar.

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