O presidente Jair Bolsonaro (PSL) sugeriu neste domingo (4) que ordenou ao ministro Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) a exoneração do diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ricardo Galvão, após críticas feitas ao capitão reformado em controvérsia envolvendo dados de desmatamento divulgados pelo órgão.

Questionado no Palácio do Alvorada, em Brasília, sobre se havia pedido a demissão de Galvão, Bolsonaro respondeu: “Está a cargo do ministro. Eu não peço [a demissão], certas coisas eu mando”, afirmou.

Segundo o presidente, não havia mais clima para Galvão continuar à frente do Inpe após as declarações contra  Bolsonaro. Em entrevista à Folha de S.Paulo no último dia 21, Galvão havia dito que até poderia ser demitido, mas que o instituto era cientificamente sólido o suficiente para resistir aos ataques do governo.

No dia 20, ao Jornal Nacional, Galvão afirmou que “ele [Bolsonaro] tem um comportamento como se estivesse em botequim. Ou seja, ele fez acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo só eu, mas muitas outras pessoas”. “Isso é uma piada de um garoto de 14 anos que não cabe a um presidente da República fazer”, disse o diretor do Inpe.

Bolsonaro voltou a criticar a divulgação dos dados do Inpe, que mostraram um aumento de 88% do desmatamento em junho. O presidente avalia que há interesses no mundo para desacreditar o Brasil.

“Você mexe com economia do mundo. Estamos adiantados com Mercosul, com Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos. Isso dá um freio na gente, perde todo mundo.”

Na avaliação do presidente, ao descobrir um “dado desse”, Galvão deveria ter ido “apavorado” até Pontes ou ao ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) para alertar sobre o dado. “Avisa o presidente, para não ser surpreendido”, disse. “Isso não é a posição de um brasileiro, de alguém que quer servir a sua pátria, e está preocupado com os negócios do Brasil. É lamentável. Uma pessoa de idade. Até acho que mais velho que eu pela fisionomia. Não é para agir dessa maneira.”

Para Bolsonaro, os dados deveriam ser mantidos reservados antes da divulgação. “Quando ele faz a compilação, etc, ele tem que tomar conta desses dados”, afirmou, exemplificando com o papel do presidente do Banco Central no anúncio de taxas de juros após reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).

Na sexta-feira (2), Galvão disse que sua saída da direção do Inpe foi motivada pelo “constrangimento” criado junto ao presidente. “Diante do fato, a maneira como eu me manifestei com relação ao presidente, criou-se um constrangimento que é insustentável. Então eu serei exonerado”, afirmou, nesta sexta, o diretor, que disse concordar com sua substituição.

Galvão afirmou que tinha preocupação de que suas críticas fossem respingar no Inpe. “Não vai acontecer”, ressaltou. Apesar de ter mandato de quatro anos com prazo para terminar no final do próximo ano, ele disse que no regimento do instituto está explícito que o ministro poderia, numa situação de perda de confiança, substituir o diretor do órgão.

Ele disse ainda ter indicado um nome para substitui-lo com o objetivo de continuar sua linha de ação à frente do instituto, mas não quis dizer quem seria, por ser prerrogativa do ministro escolher o novo diretor do Inpe.A exoneração ocorre depois de críticas reiteradas do presidente Jair Bolsonaro e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ao Inpe nas duas últimas semanas por causa de dados que apontaram alta no desmatamento.

No dia 19 de julho, em café da manhã com jornalistas estrangeiros, Bolsonaro questionou os dados de desmatamento.  “Com toda a devastação de que vocês nos acusam de estar fazendo e ter feito no passado, a Amazônia já teria se extinguido”, disse. “É lógico que eu vou conversar com o presidente do Inpe. [São] Matérias repetidas que apenas ajudam a fazer com que o nome do Brasil seja malvisto lá fora”, disse mais tarde no mesmo dia.

O presidente afirmou também que os dados do Inpe não correspondiam à verdade e sugeriu que Galvão poderia estar a “serviço de alguma ONG.”

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